Tesouros linguísticos escondidos nas histórias e nas conversas
Boas e a importância na documentação e descrição de língua e cultura
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v14i1.409Palavras-chave:
Boas, documentação, linguística, línguas amazônicas, mobilidade, interação socialResumo
O legado de Boas tem sido retomado na área de documentação e descrição das línguas indígenas. Um dos seus pontos centrais é deixar a língua contar a sua própria história, ou seja, permitir aos falantes falarem por si mesmos, criando um registro de fala espontânea em situações de comunicação naturais. Isso, segundo Boas, facilitaria a descoberta de estruturas e categorias gramaticais, lexicais e culturais que permaneceriam obscuras para o pesquisador caso não permita o surgimento de pontos de vistas indígenas. Tomando essa perspectiva como fio condutor para o trabalho de campo, apresentamos aqui dois estudos de casos com os povos Dâw e Hupd’äh (Naduhup), mostrando como a escolha de registros pelos próprios indígenas e o método de observação participativa apresentaram-nos categorias gramáticas e lexicais, como por exemplo um inventário de verbos de movimento estruturado na base de traços topográficos e afixos, indicando tipos de interações sociais muito inesperadas.
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