Tematizando uma casa-grande e um engenho de açúcar: efeitos da patrimonialização e herança colonial no turismo histórico
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v13i1.368Palavras-chave:
turismo histórico, turismo responsável, estereótipos raciais, escravidão, tematizaçãoResumo
Este artigo analisa a tematização de uma pousada comercial localizada em um município histórico da região Centro-Oeste. Nesse aspecto, analisa principalmente esculturas alusivas a estereótipos raciais integradas à tematização. O texto argumenta que existe uma estreita associação entre história oficial, patrimônio tangível e tematização que pressupõe a vitória econômica e simbólica luso-brasileira na formação de sua historicidade. Dividido em três seções, inicialmente o texto analisa as esculturas e os ambientes da pousada. A segunda seção apresenta dados sociodemográficos do município, discute nuances na formação do patrimônio material e apresenta o perfil do turista em visita à cidade. Termina refletindo sobre turismo e mediação responsáveis, propondo tanto para turistas quanto para governos e empreendedores interessados na representação afro-brasileira alternativas para criticar a produção da historiografia e reverter padrões que têm excluído mulheres negras ativistas da elite decisória nas questões envolvendo patrimônio e turismo histórico na cidade.
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