Fazer sofrer
governamentalidade e socialidade na partilha da dor
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v8i1.153Palavras-chave:
Encosta da Serra, Dor, Sofrimento, Governamentalidade, SocialidadeResumo
A partir do intervalo etnográfico de um dia de trabalho de campo em uma Unidade de Saúde da Família da Encosta da Serra gaúcha, analiso como a partilha da dor pode ser tomada enquanto um princípio de socialidade, mas igualmente de governamentalidade. Acompanharemos a visita que fiz na companhia de Letícia, agente comunitária de saúde, a uma moradora que pretendia cometer suicídio. Diante de sua dor, dirigimo-la a um tratamento clínico e passamos a desejar um novo controle para aquilo que nos atingia enquanto sofrimento. Ali não importava a qualidade relacional e narrativa que a dor assume na Encosta da Serra, responsável por formar e informar pessoas, grupos e lugares no preceito de se judiar no trabalho. Partirei desta experiência partilhada para problematizar a ambivalência relacional da dor, assim como minha própria posição enquanto etnógrafo diante do que julgamos ser o sofrimento em sua expressão incontrolável, a própria morte.
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