Parecidos, o suficiente

Nós e os outros humanos, os animais de estimação

Autores

  • Jean Segata

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v4i1.71

Palavras-chave:

animais de estimação, humanização, medicalização, Pet Shops

Resumo

A humanização dos animais, especialmente aqueles de estimação, é tema corrente em nossos dias. Ela é motivo de reportagens, debates envolvendo economistas, psicólogos, juristas, médicos, religiosos, filósofos ou antropólogos, como também o é para a expansão de mercados, para investimentos políticos ou para inspiração artística. Mas como é produzida a humanidade desses animais? Quando ou até onde eles são humanos? O objetivo dessa trabalho é o de fazer aparecer essas negociações e limites, sustentando que o que tratamos por humanização dos animais não se nutre simplesmente da equivalência de elementos culturais - como os nomes humanos, as roupas, os cuidados, o fato de viverem nos mesmos lares ou de motivarem discussões sobre alguns direitos e moralidades. Igualmente, ela se nutre daqueles elementos que imputamos ao domínio da natureza, como alguns instintos que precisam ser modulados ou uma biologia equivalente que permite o diagnóstico de problemas orgânicos e a sua medicalização. Para tanto, as reflexões que aqui se apresenta, resultam de uma etnografia a partir de uma pet shop com clínica veterinária, que foi o centro de meu trabalho de campo em minha pesquisa de doutorado. No entanto, o foco dado aqui repousa nos diagnósticos de depressão canina e nos tratamentos a base de psicotrópicos, incluindo-se o reconhecimento de uma subjetividade dos animais na aparente da apatia, tristeza ou a partir de certos comportamentos, além do que se pode chamar de consumo de ciência, mas especificamente, pela conjugação e tradução de elementos da ciência positivada e da psicanálise, com os conhecimentos ditos comuns sobre a depressão ou ansiedade. 

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Publicado

01-06-2012

Como Citar

Segata, J. (2012). Parecidos, o suficiente: Nós e os outros humanos, os animais de estimação. Revista De Antropologia Da UFSCar, 4(1), 207–234. https://doi.org/10.52426/rau.v4i1.71

Edição

Seção

Dossiê Antropologia e Medicamentos

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