Digerindo a rede

sobre a cadeia alimentar e a rede sociocósmica a’uwẽ-xavante

Autores

  • Guilherme Falleiros

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v11i2.324

Palavras-chave:

a’uwẽ-xavante, rede sociocósmica, alimentação

Resumo

A rede sociocósmica a’uwẽ-xavante manifesta aspectos (endo)canibais, como uma “teoria da digestão” e dos “modos à mesa” (palavras de Lévi-Strauss). O fora, origem do alimento, é a fonte do poder e o lugar para onde irão os mais velhos ao se tornarem antepassados, numa cadeia retroalimentar que lembra uma “garrafa de Klein”. A humanização plena de todas as pessoas e entidades, o contágio mimético total, é evitado a partir de cortes na rede, traçados não só pelo parentesco, mas também pelo jogo do paraparentesco. Entretanto, parentesco e paraparentesco não se submetem totalmente um ao outro, cada qual podendo afirmar suas próprias concepções de humanização. Argumento que, ao analisar esta rede, pode ser compreendida a forma a’uwẽ-xavante de lidar com a alteridade.

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Publicado

01-12-2019

Como Citar

Falleiros, G. (2019). Digerindo a rede: sobre a cadeia alimentar e a rede sociocósmica a’uwẽ-xavante. Revista De Antropologia Da UFSCar, 11(2), 326–355. https://doi.org/10.52426/rau.v11i2.324

Edição

Seção

Outras imagens do pensamento para a etnologia dos povos Jê do Brasil Central