Considerações familiares ou sobre os frutos do pomar e da caatinga
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v6i2.126Palavras-chave:
família, parentesco, casa, sertão de PernambucoResumo
Neste artigo me debruçarei sobre alguns conceitos e noções forjados com a finalidade de definir grupamentos solidários de base parental, dentro e fora do antropologia do parentesco, no intuito de examinar sua pertinência ao meu próprio material de campo no sertão pernambucano, em consonância com as diferentes abrangências a que alude ali o termo família, bem como aos processos de familiarização e desfamiliarização que ocorrem no interior e para além do campo estrito da família e do parentesco. A flexibilidade e indeterminação dos vínculos cognáticos e a extensão metafórica do parentesco sobre outros campos de relações impõem desafios analíticos, por vezes implícitos nos conceitos mais ou menos consagrados na antropologia. Primeiramente, examino diferentes acepções da noção de casa, de modo a confrontar sentidos nativos e analíticos a ela atribuídos. Esse exercício se desdobra no questionamento sobre os limites da correspondência entre algumas categorias sertanejas de parentesco e os termos da oposição entre parentesco biológico e social, que fundamenta, segundo Schneider, os estudos antropológicos do parentesco. No ensejo de introduzir nesse debate outras distinções não de imediato subsumidas àquela dicotomia, recorro ao conceito deleuziano de “virtual- eal” como instrumento analítico que permite elucidar distinções realizadas pelos próprios sertanejos com respeito ao parentesco e à família.
Referências
CARNEIRO, Ana C. 2010. O “povo” parente dos Buracos: mexida de prosa e cozinha no cerrado mineiro. Tese de Doutorado, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
CARSTEN, JANET. 1995. “The substance of kinship and the heat of the hearth: feeding, personhood, and relatedness among the Malays in Pulau Langwaki”. American Ethnologist, 22(2):223-241.
______. 2000. Cultures of relatedness: new approaches to the study of kinship. Cambridge: Cambridge University Press.
CARSTEN, Janet; HUGH-JONES, Stephen. 1995. About the house: Lévi-Strauss and beyond. Cambridge: Cambridge University Press.
COMERFORD, John C. 2003. Como uma família: sociabilidade, territórios de parentescosindicalismo rural. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
DAINESE, Graziele. 2011. Chegar ao Cerrado Mineiro: hospitalidade, política e paixões. Tese de Doutorado, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 1980. Mille plateaux. Capitalisme et schizophénie. Paris: Éditions de minuit.
DELEUZE, Gilles. 1988. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Edições Graal.
EDWARDS, Jeanette; STRATHERN, Marilyn. 2000. “Including our own”. In: J. Carsten (ed.), Cultures of relatedness: new approaches to the study of kinship. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 149-166.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1984. Paroles Données. Paris: Plon.
MARCELIN, Louis. 1996. L’Invention de la famille afro-americaine: famille, parenté et domesticité parmi les noires du Recôncavo da Bahia, Brésil. Tese de Doutorado não publicada, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
______. 1999. “A linguagem da casa entre os negros no Recôncavo baiano”. Mana, 5(2):31-60.
MARQUES, Ana C. 2002. Intrigas e questões: vingança de família e tramas sociais no sertão de Pernambuco. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
______. 2011. “Intrigas and questões. Blood Revenge and Social Network in Pernambuco, Brazil”. In: E. A. Heuser, B. Descharmes, C. Kruger & T. Loy (eds.), Varieties of friendship. Interdisciplinary perspectives on social relationships. Göttingen: V&R unipress. pp. 337-354.
______. 2013. “Founders, ancestors, and enemies: memory, faily, time, and space in the Pernambuco sertão”. Journal of the Royal Anthropological Institute (N.S.), 19:716-733.
MAYBLIN, Maya. 2010. Gender, Catholicism, and morality in Brazil: virtuous husbands, powerful wives. New York: Palgrave Macmillan.
ROSA, Hildo L. 2008. “De Penafiel a panela d’água: encontros com as origens portuguesas de uma família florestana”. Revista de História Municipal, 8:número de páginas.
SAHLINS, Marshall. 2013. What kinship is: and is not. Chicago: University of Chicago Press.
SCHNEIDER, David M. 1968. American kinship: a cultural account. Englewood Cliffs: Prentice-Hall.
______. 1984. A critique of the study of kinship. Ann Arbor: University of Michigan Press.
TEIXEIRA, Jorge L. 2014. Na terra dos outros: mobilidade, trabalho e parentesco entre os moradores do Sertão dos Inhamuns. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
VILLELA, Jorge L. M. 2008. Política e eleições em Pernambuco: o povo em armas. Campinas: Pontes.
______. 2009. “Família como grupo? Política como agrupmamento?” Revista de Antropologia, 52:201-246.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2014 Revista de Antropologia da UFSCar
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.