O documentário como etnografia de uma luta infinita

assentamento e expulsão no Acampamento Capão das Antas (São Carlos, SP)

Autores

  • Júlia Aricó Savarego UFSCar

DOI:

https://doi.org/10.14244/rau.v15i2.462

Palavras-chave:

Assentamento, Expulsão, Acampamento, Direito, Etnografia da luta

Resumo

O presente artigo propõe uma discussão metodológica para lidar com problemas de uma etnografia do processo de reintegração de posse enfrentado pelo Acampamento Capão das Antas — ocupação rural localizada em São Carlos (SP). A questão mobilizada ao longo de todo texto diz respeito às técnicas de visualização utilizadas para etnografar contínuas histórias de expulsão que se encontram na própria possibilidade do assentamento. A partir das relações entre ocupantes e os muitos documentos que fazem expulsão e permanência, deslindo três propostas metodológicas: performatividade da escrita como parte do movimento de luta infinita do Capão das Antas, no qual fazer alianças é imprescindível; contraposição entre a invasão do Direito nas vidas do Capão das Antas e a ocupação feita da linguagem proprietária da Lei pelas/os moradoras/es do acampamento; explicitação, através da noção de documentário, da ‘ressonância de ritmos’ que percorre, na luta, Antropologia, Direito e Acampamento.

Referências

ALVES, Yara (2020). “Do corpo para o mundo: força e firmeza como princípios políticos entre quilombolas mineiros”. In: J. Villela & S. Vieira (org.), Insurgências, ecologias dissidentes e antropologia modal.Goiânia: Editora da Imprensa Universitária. pp. 277–307.

ANDERS, Günther. (2007). Kafka: pró e contra. Os autos do processo. Tradução de Modesto Carone. São Paulo: Cosac & Naify.

BIONDI, Karina (2018). Proibido roubar na quebrada: território, hierarquia e lei no PCC. Antropologia hoje. São Paulo: Editora Terceiro Nome.

CADENA, Marisol de la (2015). Earth Beings: ecologies of practice across Andean worlds. Durham: Duke University Press.

CHAVES, Christine de Alencar (2000). A marcha nacional dos sem-terra: um estudo sobre a fabricação do social. Rio de Janeiro: Relume-dumará.

DELEUZE, Gilles (1997). Crítica e clínica. Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix (2003). Kafka: para uma literatura menor. Tradução de Rafael Godinho. Lisboa: Assírio e Alvim.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix (1995). Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia. Vol. 2. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. Rio de Janeiro: Editora 34.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix (1995a). Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia. Vol. 4. Tradução de Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34.

FLYNN, Alex U. (2021). “Once upon a Time in Utopia: Bergson, Temporality and the Remaking of Social Movement Futures.” Social Anthropology, 29(1):156–73. https://doi.org/10.1111/1469-8676.12991.

FOUCAULT, Michel (2016). A sociedade punitiva: curso no Collège de France (1972-1973). Tradução de Ivone C. Benedetti. São Paulo: WMF Martins Fontes.

_____ (2014). Aulas sobre a vontade de saber: curso no Collège de France (1970-1971) seguido de O saber de Édipo. Tradução de Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.

_____ (2002). A verdade e as formas jurídicas. Tradução de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim Morais, supervisão final do texto de Léa Porto de Abreu Novaes. Rio de Janeiro: NAU Editora.

______ (2001). Os anormais: curso no Collège de France (1974-1975). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes.

GUIN, Ursula K Le (2020). A ficção como cesta: uma teoria. Tradução de Priscilla Mello.

GUTTERRES, Anelise dos Santos (2016). “O Rumor e o Terror na Construção de Territórios de Vulnerabilidade na Zona Portuária do Rio de Janeiro.” Mana 22 (1): 179–209. https://doi.org/10.1590/0104-93132016v22n1p179.

KAFKA, Franz (2000). O Castelo. Tradução de Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras.

_____ (2009). O Processo. Tradução de Guimarães Editores. Alfragide: Leya, SA.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce (2015). A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés; prefácio de Eduardo Viveiros de Castro. São Paulo: Companhia das Letras.

LaSPA (2010). “Félix Guattari fala durante aula de Gilles Deleuze (Université de Vincennes, 1975)”. Filmado em 1975, Centre Universitaire de Vincennes, Paris, FR. Vídeo, 09:56. https://sociologiassociativa.wordpress.com/2010/09/30/felix-guattari-fala-durante-aula-de-gilles-deleuze-universite-de-vincennes-1975/.

LOERA, Nashieli Rangel (2014). Tempo de Acampamento. São Paulo: Editora Unesp.

MAGALHÃES, Sônia Barbosa (2007). Lamento e dor. Uma análise sócio-antropológica do deslocamento compulsório provocado pela construção de barragens. Tese de doutorado. Universidade Federal do Pará; Universidade Paris 13.

MARCURIO, Gabriela de Paula (2022). Tempo da reparação: luta e memória da comunidade atingida de Paracatu de Baixo, Mariana/MG. Dissertação de mestrado. PPGAS, Universidade Federal de São Carlos.

MATEUS, Kergilêda Ambrosio de Oliveira (2016). Modos de vida e convívio escolar: o Assentamento Rural Santa Helena - São Carlos - SP. Tese de doutorado. PPGE, Universidade Federal de São Carlos.

MUNHOZ, Sara R. (2022). A paixão do acesso: uma etnografia das ferramentas digitais e da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Tese de doutorado. PPGAS, Universidade Federal de São Carlos.

OLIVEIRA, Joelson Ferreira de. (2020). Terra Vista, Terra-mãe: existência grandiosa no campo. Caderno de Leituras n.111, Políticas da Terra.

PATERNIANI, Stella Zagatto (2013). Política, fabulação e a ocupação Mauá: etnografia de uma experiência. Dissertação de mestrado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas.

______ (2019). São Paulo cidade negra: branquidade e afrofuturismo a partir de lutas por moradia. Tese de doutorado. PPGAS, Universidade de Brasília.

SÃO CARLOS (município) (2006). Lei nº 13.944. 12/12/2006. Disponível em www.saocarlos.sp.gov.br/images/stories/plano_diretor/.

SÃO PAULO (estado). Tribunal de Justiça de São Paulo (2022). “Decisão de suspensão do processo de execução de sentença”. São Carlos.

SÃO PAULO (estado) (1983). Decreto n. 20.960. 08/06/1983. Declara área de proteção ambiental de regiões situadas em diversos municípios, dentre os quais Corumbataí, Botucatu e Tejupá. Disponível em www.al.sp.gov.br/norma/?id=57437.

SAVAREGO, Júlia Aricó (2022). “Cuidado e resistência frente às políticas de expulsão: o tratar da terra e sua centralidade para a luta do Acampamento Capão das Antas (São Carlos – SP)”. In J. Carvalho; R. Borsatto; L. Santos (org.), Formação de Agentes Populares de Agroecologia. São Carlos: EdUFSCar. pp. 145-63.

SIGAUD, Lygia (2005). “As condições de possibilidade das ocupações de terra”. Tempo Social, 17(1): 255-80.

SOUZA, Marcela Stockler Coelho de (2021). “Dois pequenos problemas com a lei terra intangível para os Kisêdjê”. Revista de Antropologia da UFSCar, 9(1): 109-30. https://doi.org/10.52426/rau.v9i1.182.

STRATHERN, Marilyn (2014). O Efeito Etnográfico e outros ensaios. Tradução de Iracema Dulley, Jamille Pinheiro e Luísa Valentini. São Paulo: Cosac & Naify.

______ (2015). Parentesco, direito e o inesperado: parentes são sempre uma surpresa. Tradução de Stella Zagatto Paterniani. São Paulo: Fundação Editora da Unesp.

TAUSSIG, Michael T. (2010). O diabo e o fetichismo da mercadoria na América do Sul. Tradução de Priscila Santos da Costa. São Paulo: Fundação Editora da Unesp.

VESHAGEM, Marina Bento (2020). “A tradução do ritmo em Henri Meschonnic a partir da teoria de Émile Benveniste”. Revista Linguagem & Ensino, 23(3): 649-61. https://doi.org/10.15210/rle.v23i3.17636.

VILLELA, Jorge Mattar (2020). “Confiscações, lutas anti-confiscatórias e antropologia modal”. In J. Villela & S. Vieira (org.), Insurgências, ecologias dissidentes e antropologia modal. Goiânia: Editora da Imprensa Universitária. pp. 277-307.

VILLELA, Jorge Mattar; VIEIRA, Suzane (2020). “Introdução”. In J. Villela & S. Vieira (org.), Insurgências, ecologias dissidentes e antropologia modal. Goiânia: Editora da Imprensa Universitária. pp. 11-33.

WAGNER, Roy. A Invenção da Cultura (2017). Tradução de Marcela Coelho de Souza e Alexandre Morales. São Paulo: Ubu Editora.

Downloads

Publicado

11-09-2024

Como Citar

Savarego, J. A. (2024). O documentário como etnografia de uma luta infinita: assentamento e expulsão no Acampamento Capão das Antas (São Carlos, SP). Revista De Antropologia Da UFSCar, 15(2), 291–323. https://doi.org/10.14244/rau.v15i2.462