Guerra ao javali
invasão biológica, feralização e domesticação nos campos sulinos
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v5i1.132Palavras-chave:
javali, invasão biológica, feralização, domesticação, campos sulinos, pampaResumo
Este artigo analisa o processo de invasão biológica protagonizado por suídeos ferais da espécie Sus scrofa no extremo-sul do Brasil desde um ponto de vista antropológico e etnográfico. Considerado uma das piores espécies exóticas invasoras do mundo, o javali europeu tem produzido alterações na paisagem pampeana que o artigo visa discutir. A consolidação de uma rede local de manejo da espécie - envolvendo produtores rurais, órgãos estatais e caçadores - é o ponto de partida etnográfico para uma análise de aspectos como: a aquisição de habilidades cinegéticas por indivíduos antes acostumados com outro tipo de lida humano-animal; as mudanças acarretadas no cotidiano de criadores de animais; bem como a fronteira entre o selvagem e o doméstico, representada localmente pelas controvérsias envolvendo o “javaporco” – elemento híbrido entre o porco doméstico e o porco feral.
Referências
ALBARELLA, Umberto; DOBNEY, Keith; ERVYNCK, Anton; ROWLEY-CONWY, Peter. 2007. Pigs and humans: 10,000 years of interaction. Oxford: Oxford University Press.
ANDERSON, David A. 2014. “Cultures of reciprocity and cultures of control in the circumpolar North”. Journal of Northern Studies, 8(2):11-27.
BARETTA, Silvio R. D.; MARKOFF, John. 1978. “Civilization and barbarism: cattle frontiers in Latin America”. Comparative Studies in Society and History, 20(4):587-620.
BLACKBURN, Tim M.; PYSEK, Petr; BACHER, Sven; CARLTON, James T.; DUNCAN, Richard P.; JAROSIK, Vojtech; WILSON, John; RICHARDSON, David M. 2011. “A proposed unified framework for biological invasions”. Trends in Ecology and Evolution, 26(7):333-339.
BRASIL. 1998. Portaria IBAMA no 102, de 15 de julho de 1998. Normatiza os criadores comerciais de fauna exótica. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 16 ago. 1998. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/fauna/legislacao/port_102_98.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2014.
______. 2006. Espécies exóticas invasoras: situação brasileira. Brasília: Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Ministério do Meio Ambiente.
______. 2013. Instrução Normativa IBAMA no 3, de 31 de janeiro de 2013. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 1 fev. 2013. pp. 88-89.
COLAUTTI, Robert; MCISAAC, Hugh. 2004. “A neutral terminology to define invasive species”. Diversity and Distributions, 10:135-141.
COMAROFF, Jean; COMAROFF, John L. 2001. “Naturing the nation: aliens, apocalypse and the postcolonial state”. Journal of Southern African Studies, 27(3): 627-651.
CORREA, Sergio. 2009. “Berlim permite caça de javalis no centro da cidade”. BBC Brasil, Abril 10. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090410_javali_ac.shtml>. Acesso em: 2 jun. 2015.
CROSBY, Alfred. 2011. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa 900-1900. São Paulo: Companhia das Letras
DA ROS, César A. 2012. Terra e poder no Rio Grande do Sul: as políticas agrárias durante o governo Olívio Dutra (1999-2002). Rio de Janeiro: Garamond.
DEBERT, André J.; SCHERER, Scherezino. 2007. “O javali asselvajado: ocorrência e manejo da espécie no Brasil”. Natureza e Conservação, 5(2):31-44.
DESBIEZ, Arnaud L. J.; KEUROHLIAN, Alexine; PIOVEZAN, Ubiratan; BODMER, Richard E. 2011. “Invasive species and bushmeat hunting contributing to wildlife conservation: the case of feral pigs in a Neotropical wetland”. Fauna & Flora International, 45(1):78-83.
DIAMOND, Jared. 2005. Guns, germs and steel: a short history of everybody for the last 13,000 years. London: Vintage Books.
DIGARD, Jean P. 1995. “Un phénomène méconnu: le marronnage des animaux: aspects moderns et implications”. In: B. Lizet & G. Ravis-Giordani (eds.), Des Bêtes et des hommes: le rapport à l’animal: un jeu sur la distance. Paris: Éditions du Comité des Travaux Historiques et Scientifiques. pp. 133-145.
______. 2012. “A biodiversidade doméstica, uma dimensão desconhecida da biodiversidade animal”. Anuário Antropológico, 2011(2):205-226.
DORFMAN, Adriana. 2009. Contrabandistas na fronteira gaúcha: escalas geográficas e representações textuais. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina.
DOUGLAS, Mary. 2013 [1966]. “The Abomination of Leviticus” In: C. Counihan & P. Esterik (eds.), Food and Culture: a reader. New York: Routledge. pp. 48-58.
EVANS-PRITCHARD, Edward E. 2008. Os Nuer: uma descrição do modo de subsistência e das instituições políticas de um povo nilota. São Paulo: Perspectiva.
FARINATTI, Luís A. E. 2007. Confins Meridionais: famílias de elite e sociedade agrária na fronteira sul do Brasil (1825-1865). Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
______. 2010. “Domesticação, técnica e paisagem agrária na pecuária tradicional da campanha rio-grandense (século XIX)”. In: B. P. Costa, J. H. Quoos & M. E. G. Dickel (eds.), A sustentabilidade da Região da Campanha-RS: práticas e teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade,
cultura e políticas públicas. Santa Maria: Programa de Pós-graduação em Geografia e Geociências, Universidade Federal de Santa Maria. pp. 62-87.
FREITAS, Décio. 1980. “O mito da ‘produção sem trabalho’”. In: D. Freitas, J. H. Dacanal & S. Gonzaga (eds.), RS: Cultura e Ideologia. Porto Alegre: Mercado Aberto. pp. 7-24.
GIBSON, James J. 1979. The ecological approach to visual perception. Boston: Houghton Mifflin.
HARRIS, Marvin. 2013 [1985]. “The abominable pig”. In: C. Counihan & P. Esterik (eds.), Food and culture: a reader. New York: Routledge. pp. 59-71.
HAUDRICOURT, André-Georges. 1962. “Domestication des animaux, culture des plantes et traitement d’autrui”. L’Homme, 2(1):40-50.
INGOLD, Tim. 1980. Hunters: Pastoralists and Ranchers: reindeer economies and their transformations. Cambridge: Cambridge University Press.
______. 2000. The perception of the environment: essays in livelihood, dwelling and skill. London: Routledge.
KOSBY, Marilia; SILVA, Liza B. M. 2013. “INRC – Lidas campeiras na região de Bagé/RS: inventário dos ofícios e modos de fazer da pecuária no Pampa”. Perspectivas Sociais, 2(1):2-14.
LARSSON, Brendon M.H. 2005. “The war of the roses: demilitarizing invasion biology”. Frontiers in the Ecology and Environment, 3(9):495-500.
LEAL, Ondina F. 1989. The gauchos: male culture and identity. Tese de Doutorado, University of California, Berkeley.
LEIRNER, Piero. 2012. “O Estado como fazenda de domesticação”. R@U: Revista de Antropologia da UFSCar, 4(2):38-70.
LOMBARDI, Raúl; BERRINI, Rossana; ACHAVAL, Federico; WAYSON, Craig. 2007. El Jabalí en el Uruguay. Montevideo: Centro Interdisciplinario para el Desarollo.
LOWE, Sarah; BROWNE, Michael; BOUDJELAS, Souyad; POORTER, Maj. 2004. 100 of the world’s worst invasive alien species: a selection from the Global Invasive Species Database. New Zealand: ISSG, IUCN.
MARVIN, Garry. 2010. “Challenging animals: project and process in hunting”. In: S. Pilgrim & J. Pretty (eds.), Nature and Culture: rebuilding lost connections. London: Earthscan. pp. 145-165.
OLIVEIRA, Anderson E. S.; MACHADO, Carlos J. 2009. “Quem é quem diante da presença de espécies exóticas no Brasil? Uma leitura do arcabouço legal-institucional voltada para a formulação de uma política pública nacional”. Ambiente e Sociedade, 13(2):273-387.
PERETTI, Jonah H. 1998. “Nativism and nature: rethinking biological invasion”. Environmental Values, 7:183-192.
PESAVENTO, Sandra J. 1994. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto.
PILLAR, Valério P.; VÉLEZ, Eduardo. 2010. “Extinção dos campos sulinos em unidades de conservação: um fenômeno natural ou um problema ético”. Natureza e Conservação, 8(1):84-86.
REED, Edward S. 1988. “The affordances of the animate environment: social science from the ecological point of view”. In: Tim Ingold (ed.), What is an animal? London: Unwyn Hyman. pp. 110-126.
SAGOFF, Mark. 1999. “What’s wrong with exotic species?” Report from the Institute for Philosophy and Public Policy, 19(4):16-23.
SAUTCHUK, Carlos E. 2007. O arpão e o anzol: técnica e pessoa no estuário do Amazonas (Vila Sucuriju, Amapá). Tese de Doutorado, Universidade de Brasília.
SERRES, Michel. 2003. Hominescências: o começo de uma outra humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
SIGAUT, François. 1988. “Critique de la notion de domestication”. L’Homme, 28(108):59-71.
SUBRAMANIAM, Banu. 2001. “The aliens have landed! Reflections on the rhetoric of biological invasions”. Meridians: Feminism, Race, Transnationalism, 2(1):26-40.
SUERTEGARAY, Dirce M.; FUJIMOTO, Nina S. V. M. 2012. “Morfogênese do relevo do Estado do Rio Grande do Sul”. In: R. Verdum, L. A. Basso & D. M. A. Suertegaray (eds.), Rio Grande do Sul: paisagens e territórios em transformação. Porto Alegre: Editora da UFRGS. pp. 11-26.
TSING, Anna L. 1995. “Empowering nature, or: some gleenings in bee-culture”. In: S. Yanagisako & C. Delaney (eds.), Naturalizing power: essays in feminist cultural analysis. New York: Routledge. pp. 113-143.
URUGUAY, República Oriental. Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca. 1982. Decreto 463/982 de 15/12/1982. Registro Nacional de Leyes y Decretos, Montevideo.
______. Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca. 1996. Decreto 164/996 de 02/05/1996. Registro Nacional de Leyes y Decretos, Montevideo.
VALÉRY, Loic; FRITZ, Hervé; LEFEUVRE, Jean-Claude; SIMBERLOFF, Daniel. 2008. “In search of a real definition of the biological invasion phenomenon itself ”. Biological Invasions, 10: 1345-1351.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2015 Revista de Antropologia da UFSCar
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.