O Estado como fazenda de domesticação
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v4i2.76Palavras-chave:
estado, domesticação, guerra, política, fazenda, militaresResumo
Este artigo pretende explorar as possibilidades de uma divergência em relação ao tratamento usual que se faz em relação ao estado como parte de uma esfera política. Partindo da crítica à própria concepção de “político” como antagônica a uma esfera “doméstica”, ajusta-se a sintonia fina de uma concepção de estado ao modus operandi de seus agentes nativos, e tem-se como principal questão justamente o fato de que a faixa de transmissão em que o estado opera tem tantos canais quantos forem possíveis de se realizar através de seus agentes. Buscando entender essa profusão de faixas, tenta-se aqui polarizar em um caso etnográfico que tematiza certas imagens privilegiadas: ausência de estado, domesticação, inimizade, o indômito, o selvagem, tomados a partir do ponto de vista de uma etnografia com militares na Amazônia. A partir disso, busca-se aqui entender como se produziu uma imagem artificial da política como sinônimo de estado, tomando conexões etimológicas, históricas e antropológicas que mostram o imbricamento entre processos estatais e um vocabulário da domesticação, que produz uma espécie de agenciamento que estou chamando de fazenda de domesticação. Por fim, a hipótese a ser defendida é que político e doméstico não se constituem em polos antagônicos, mas, antes, que o político é domesticação.
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