Sobre medo, amor e engajamento
micropolítica das emoções a partir da militância de integrantes do coletivo Mães pela Liberdade
DOI:
https://doi.org/10.14244/rau.v15i1.445Palavras-chave:
antropologia das emoções, família, militância materna, Movimento LGBTResumo
Neste artigo, proponho reflexões tecidas a partir da interlocução com integrantes do coletivo de familiares de pessoas LGBTQIA+, Mães pela Liberdade, realizada através de entrevistas durante 2020 e 2021 e de trabalho de campo durante 2022. A partir de arcabouço teórico da Antropologia das Emoções, pretendo refletir sobre as narrativas de algumas mães acerca de sua adesão ao coletivo, bem como das transformações em suas subjetividades, possibilitadas pelo engajamento político, abordando o modo como tais falas foram permeadas por uma gramática das emoções. Desenvolvo, também, como essa gramática foi mobilizada enquanto ferramenta política na luta pelos direitos dos/das filhos/as e contra a LGBTfobia, a partir da evocação de categorias como acolhimento e amor num contexto de aliança ao movimento LGBTQIA+. Partindo de uma perspectiva micropolítica das emoções, proponho que exista um gerenciamento discursivo dessas emoções como forma de criar efeitos no cenário de políticas sexuais brasileiro, constando como prática de resistência e de aliança às minorias de gênero e sexualidade.
Referências
Abu-Lughod, Lila; Lutz, Catherine (1990). Introduction: Emotion, discourse and the politics of everyday life. In C. Lutz & L. Abu-Lughod (ed.), Language and the Politics of Emotion (pp. 1-23). Cambridge: Cambridge University Press.
Aguião, Silvia (2018). Fazer-se no “Estado”: uma etnografia sobre o processo de constituição dos “LGBT” como sujeitos de direitos no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: EdUERJ.
Álvarez, Maria Inés. F. (2011). Além da racionalidade: o estudo das emoções como práticas políticas. Mana, 17(1), pp. 41-68.
Badinter, Elisabeth (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Batista, Maria Alice Magalhães da Silva (2021). Ocupação dos espaços públicos e militância materna para fora do armário: atuação política entre integrantes do coletivo mães pela liberdade. Novos Debates, 7(2), pp. 1-17.
Blackwood, Evellyn (1995). Falling in love with na-Other lesbian: reflections on identity in fieldwork. In: D. Kulick & M. Wilson, Taboo: Sex, Identity and Erotic Subjectivity in Anthropological Fieldwork (pp.51-70). New York: Routledge.
Brites, Jurema & Fonseca, Cláudia (2013). As metamorfoses de um movimento social: Mães de vítimas de violência no Brasil. Anál. Social, 209(1), pp.858-877.
Butler, Judith (2019). Vida precária: os poderes do luto e da violência. Belo Horizonte: Autêntica Editora.
_____ (2020). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.
Coelho, Maria Cláudia (2010). Narrativas da violência: a dimensão micropolítica das emoções. Mana, 16(2), pp. 265-285.
Díaz-Benítez, Maria Elvira; Gadelha, Kaciano & Rangel, Everton (2021). Nojo, humilhação e desprezo: uma antropologia das emoções hostis e da hierarquia social. Anuário Antropológico, 46(3), pp.10-29.
Facchini, Regina & Lins França, Isadora (2009). De cores e matizes: sujeitos, conexões e desafios no Movimento LGBT brasileiro. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, 3(1), pp. 54-81.
Estado de Minas (2018). Polícia investiga agressão a travestis e tumulto na Avenida Afonso Pena (11 de outubro). Belo Horizonte. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2018/10/11/interna_gerais,996535/policia-investiga-agressao-a-travestis-e-tumulto-na-avenida-afonso-pen.shtml
Freire, Lucas (2020). Em defesa da dignidade: moralidades e emoções nas demandas por direitos de pessoas transexuais. Mana, 26(2), pp. 1-30.
Gomes, Edlaine de Campos & Menezes, Rachel Aisengart (2008). Etnografias possíveis: “estar” ou “ser” de dentro. Ponto Urbe, 3, pp. 1-24.
Haraway, Donna (1995). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, 5, pp. 7-41.
Hochschild, Arlie Russel (2013). Trabalho Emocional, regras de sentimento e estrutura social. In: M. C. Coelho (ed.), Estudos Sobre Interação: textos escolhidos (pp.169-209). Rio de Janeiro: EDUERJ.
Lutz, Catherine (1990). Engendered emotion: gender, power, and the rhetoric of emotional control in American discourse. In: C. Lutz & L. Abu-Lughod (ed.), Language and the Politics of Emotion (pp.69-91). Cambridge: Cambridge University Press.
Mauss, Marcel (1979). A expressão Obrigatória dos Sentimentos. In R. Cardoso de Oliveira (ed.), Mauss: Antropologia (pp. 147-153). São Paulo: Ática.
Mead, Margaret (1999). Sexo e Temperamento. São Paulo: Editora Perspectiva.
Miller, William (1997). The anatomy of disgust. Harvard: Harvard University Press.
Novais, Kaito Campos de (2018). Gestos de amor, gestações de lutas: uma etnografia desenhada sobre o movimento mães pela diversidade. Dissertação de Mestrado, PPGAS/Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.
Oliveira, Leandro (2011). Diversidade sexual, gênero e família: notas sobre o problema da superioridade moral da heterossexualidade. In G. Passamani (ed.), (Contra)Pontos: ensaios de gênero, sexualidade e diversidade sexual (pp.53-65). Campo Grande: Editora UFMS.
_____ (2013). Os sentidos da aceitação: família e orientação sexual no Brasil contemporâneo. Tese de Doutorado, PPGAS/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Pratt, Mary Pouise (2016). Trabalho de Campo em Lugares Comuns. In J. Clifford & G. Marcus (ed.), A Escrita da Cultura: poética e política da etnografia (pp. 63-90). Rio de Janeiro: Papéis Selvagens/EdUFRJ.
Rezende, Claudia B. & Coelho, Maria Cláudia (2010). Antropologia das Emoções. Rio de Janeiro: FGV.
Rolemberg, Igor (2021). Ritual, emoções e engajamento militante: a produção em ato da mística na romaria dos mártires da floresta em Nova Ipixuna/PA. Revista De Antropologia, 64(2), pp.1-22.
Rosaldo, Michele Zimbalist (2019). Em direção a uma antropologia do self e do sentimento. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção,18(54), pp. 31-49.
Vianna, Adriana & Farias, Juliana (2011). A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional. Cadernos Pagu, 37, pp. 79-116.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista de Antropologia da UFSCar
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.
