A elaboração dos documentos na medida
Palavras-chave:
medidas socieducativas, documentos, políticas públicasResumo
Proponho apresentar neste artigo os resultados da etnografia que recentemente desembocou em minha dissertação de mestrado. A pesquisa foi realizada em um núcleo de atendimento (MSE-MA) a adolescentes autores de práticas infracionais na Zona Leste de São Paulo e privilegiou as percepções que os profissionais do núcleo têm da construção do atendimento, e as relações que estabelecem com os adolescentes, com o Poder Judiciário e com outras instâncias governamentais. Neste texto etnográfico, sugiro uma apresentação das formas como a equipe lida, por um lado, com a rigidez das metas estabelecidas pelos juízes e descritas nas legislações e, por outro, com a exigência também legal de que os atendimentos sejam individualizados. Para lidar com essas duas lógicas distintas e apresentar aos juízes os saberes que só podem ser construídos no núcleo, os técnicos utilizam a escrita e a interpretação dos documentos como suas principais armas. Trata-se de um exercício cotidiano de construção de argumentos que justifiquem os caminhos tomados a cada atendimento. Descreverei, ainda, os momentos corriqueiros em que os técnicos não conseguem estender ao Judiciário suas percepções, provocando visões divergentes sobre o andamento dos casos. Argumento, deste modo, que a relação entre a equipe e os juízes é sempre marcada pela incerteza, e que a definição de atendimento precisa ser negociada caso a caso. Esta incerteza se manifesta através da convivência, no núcleo, de diferentes saberes e diferentes formas de governo dos meninos.
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