O despertar das máscaras grandes do Alto Xingu:

Iconografia e transformação

Autores

  • Aristóteles Barcelos Neto

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v2i2.26

Palavras-chave:

kamaiurá, arte, arte indígena, antropologia da arte, ritual, objetos rituais

Resumo

O objetivo deste artigo não é discutir as razões históricas e conjecturais do retorno desses objetos ao mundo ritual xinguano. O que se defende aqui é que eles estavam realmente dormindo – ou seja, guardados pelas estruturas de realização do ritual, pelo sistema iconográfico e pelo estilo visual, eles sempre tiveram uma presença aos olhos dos xinguanos – e que o seu despertar revela uma complexa dimensão de um sistema de transformações. O intuito deste texto é mostrar a construção visual das transformações, as quais se dão por meio de relações internas ao estilo artístico wauja. O material empírico das descrições e análises é oriundo de dois grandes rituais de máscaras realizados pelos Wauja, um em julho-agosto de 2000 e o outro em fevereiro-março de 2002. A análise se processa em duas etapas tomando dois tipos de máscaras: as Sapukuyawá (figuras 3 e 4) que, ao contrário das Atujuwá, não dormiram, e estas últimas. A primeira etapa analisa a criação das identidades das máscaras Sapukuyawá e Atujuwá como templates de mesmo tipo, e a segunda demonstra como a forma básica desta última, ela própria emicamente identificada como um motivo gráfico, está dispersa em diferentes classes de objetos da cultura material wauja. 

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Publicado

01-06-2010

Como Citar

Barcelos Neto, A. (2010). O despertar das máscaras grandes do Alto Xingu:: Iconografia e transformação. Revista De Antropologia Da UFSCar, 2(2), 43–66. https://doi.org/10.52426/rau.v2i2.26