Rituais escolares e processos de estigmatização de estudantes

Uma análise de casos encaminhados ao Conselho Tutelar

Autores

  • Rosilaine Pereira UERJ

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v13i2.401

Palavras-chave:

Rituais escolares, conselho tutelar, antropologia da educação, juventudes urbanas, etnografia educacional

Resumo

Este artigo lançou como proposição, a partir de uma lacuna de pesquisa no campo de estudos sobre desigualdades educacionais, pensar os rituais escolares a partir da teoria goffmaniana de estigma (Goffman 1980), ao observar os encaminhamentos de estudantes para o conselho tutelar. A investigação foi qualitativa, com abordagem teórico-metodológica etnográfica e trabalho de campo desenvolvido durante todo o ano de 2019, em uma escola pública de ensino médio no Rio de Janeiro. Tivemos como objetivo observar os rituais de processos de estigmatização de estudantes, a partir de casos encaminhados ao Conselho Tutelar, observando como a gestão educacional lidava com os estudantes lidos como desviantes. Estamos trabalhando na interface entre antropologia e educação, e, por isso, partimos da teoria clássica antropológica dos rituais (Gennep 2013; Turner 2013) para pensarmos os rituais educacionais (Rosistolato 2015). Além disso, utilizando a teoria goffmaniana que afirma que indivíduos estigmatizados são inabilitados para uma existência social plena, considerando o contexto da escola e a possibilidade da existência de estigmas, pensamos que seja possível argumentar que indivíduos estigmatizados no lócus escolar são indivíduos inabilitados para uma vida escolar plena. Os achados desta pesquisa confirmam os processos de estigmatização de estudantes encaminhados para o Conselho Tutelar e de suas famílias, em práticas cotidianas que se consolidam de diversas formas, inclusive em processos de estigmatização dados de forma não-hermética.

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Publicado

25-11-2022

Como Citar

Pereira, R. (2022). Rituais escolares e processos de estigmatização de estudantes: Uma análise de casos encaminhados ao Conselho Tutelar. Revista De Antropologia Da UFSCar, 13(2), 254–279. https://doi.org/10.52426/rau.v13i2.401

Edição

Seção

Espaço Aberto