A multicausalidade da microcefalia (Recife, Pernambuco)
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v13i2.398Palavras-chave:
epidemia do Vírus Zika, microcefalia, Refice, Antropologia da CiênciaResumo
Aolongodequatroanos (2016-2019), acompanhei um conjunto de famílias atingidas pela epidemia do Vírus Zika na região metropolitana doRecife. Pernambuco, depois da Bahia, foi o estado com mais nascimentos de crianças com a Síndrome Congênita do Vírus Zika, cerca de 14% do total de casos confirmados no país, quase 4.000. Ouvi diferentes explicações para a cabeça pequena, asdeficiências, a forma física com que essas crianças chegaram ao mundo. Aqui, amparada por um acervo expressivo de diários de campo e tambémpor umconjunto de revisões sobre ciência e cientistas, particularmente de matriz feminista, discutirei um quadro de multicausalidade para a cabeça diminuta dessas crianças que aciona, por exemplo, vírus, vetores e vacinas, mas sobretudo tecnociências, especialistas e o Estado. Pondero sobre alguns limites e estratégias, possíveis destinatários e o caldo crítico que as várias explicações para a microcefalia podem gerar para a Antropologia da Ciência.
Referências
AS-PTA - Agricultura Familiar e Agroecologia. 2014. “Boletim 662”. Rio de Janeiro, 11/02/2014. Disponível em https://aspta.org.br/campanha/662-2/
_____. 2014. “Brasil pode liberar amanhã Aedes aegypti transgênico”. Nota à imprensa. Rio de Janeiro, 09/04/2014. Disponível em http://aspta.org.br/campanha/aedesgm/
BASTOS, Cristiana. 2002. “A política da produção de conhecimento: o activismo de SIDA como novo movimento social”. In: C. Bastos (org.), Ciência, poder, acção: respostas à SIDA. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. pp. 39-73.
BÖSCHEMEIER, Ana Gretel Echazú; CARVALHO, Breno da Silva; SOUZA, Karlla Araújo; TORRES, Maria Betânia; NOBRE, Maria Teresa (orgs). 2022. Pontes e ruas de pluralidade epistêmica: relatos, etnografias e traduções no enfrentamento à covid-19 com comunidades e movimentos sociais. Mossoró/São Carlos: Edições UERN/Áporo Editorial.
BRASIL. 2020. Boletim Epidemiológico. Brasília: Secretaria de Vigilância Sanitária/ Ministério da Saúde, 51(47).
CARNEIRO, Rosamaria e FLEISCHER, Soraya. 2020. “Em Brasília, mas em Recife: atravessamentos tecnometodológicos em saúde, gênero e maternidades numa pesquisa sobre as repercussões da epidemia do vírus Zika”. Saúde e Sociedade 29(2): e180600.
CARVALHO, Layla Pedreira. 2017. “Vírus Zika e direitos reprodutivos: entre as políticas transnacionais, as nacionais e as ações locais”. Cadernos de Gênero e Diversidade 3(2): 134-157.
CASTRO, Rosana e FLEISCHER, Soraya. 2020. “Scientific policies and ethical economies in the development of vaccines against Zika”. Ilha, 22(2): 63-95.
CITELI, Maria Teresa. 2000. “Mulheres nas ciências: mapeando campos de estudo”. Cadernos Pagu, 15: 39-75.
DINIZ, Debora. 2016. Zika: Do sertão nordestino à ameaça global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
FISCHER, Michael. 2007. “Four genealogies for a recombinant anthropology of science and technology”. Cultural Anthropology, 22(4): 539–615.
FLEISCHER, Soraya. 2020. “Introdução”. In: S. Fleischer e F. Lima(orgs.). Micro: Contribuições da Antropologia. Brasília: Athalaia. pp. 17-37.
_____. 2022. “Fé na ciência? Como as famílias de micro viram a ciência do vírus Zika acontecer em suas crianças no Recife/PE”. Anuário Antropológico, 47(1): 170-188.
FRANKLIN, Sarah. 1995. “Science as culture, cultures of science”. Annual Review of Anthropology, 24: 163- 184.
FREITAS, Lucas Bueno de e LUZ, Nanci Stancki da. 2017. “Gênero, Ciência e Tecnologia: estado da arte a partir de periódicos de gênero”. Cadernos Pagu, 49: e174908.
FUJIMURA, Joan. 1998. “Authorizing knowledge in Science and Anthropology”. American Anthropologist 100(2): 347-360.
HARDING, Sandra. 1991. Whose science? Whose knowledge? Ithaca: Cornell University Press.
hooks, bell. 2021. Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança. São Paulo: Editora Elefante.
JASANOFF, Sheila. 2004. “Ordering knowledge, ordering society”. In: S. Jasanoff (ed.), States of knowledge: the co- production of science and social order. Londres: Routledge. pp. 13-45.
KNORR-CETINA, Karin. 1995. “Laboratory studies the cultural approach to the study of science”. In: S. Jasanoff, G. Markle, J. Peterson e T. Pinch (eds.), Handbook of Science and Technology Studies. Thousand Oaks: SAGE Publications. pp. 140-166.
LIRA, Luciana e PRADO, Helena. 2020. “Nossos filhos não são cobaias: objetificação dos sujeitos de pesquisa e saturação do campo durante a epidemia de Zika”. Ilha, 22(2): 96-131.
LÖWY, Ilana. 2019. Zika no Brasil: história recente de uma epidemia. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.
MARTIN, Emily. 1998. “Anthropology and the cultural study of science”. Science, Technology and Human Values, 23: 24-44.
MATOS, Silvana Sobreira de e SILVA, Ana Claudia Rodrigues da. 2020. “Nada sobre nós sem nós: associativismo, deficiência e pesquisa científica na Síndrome Congênita do Zika Vírus”. Ilha, 22(2): 132-167.
MINELLA, Luzinete. Simões. 2013. “Temáticas prioritárias no campo de gênero e ciências no Brasil: raça/etnia, uma lacuna?”. Cadernos Pagu, 40: 95-140.
MONTEIRO, Marko. 2012. “Reconsiderando a etnografia da ciência e da tecnologia: tecnociência na prática”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 27(79): 139-151.
MORAWSKA, Catarina (org.). 2021. Engajamentos coletivos nas fronteiras do capitalismo. São Carlos: EdUFSCar.
MORO, Adriana e INVERNIZZI, Noela. 2017. “A tragédia da talidomida: a luta pelos direitos das vítimas e por melhor regulação de medicamentos”. História, Ciências, Saúde - Manguinhos 24(3): 603- 622.
NADING, Alex. 2015. “The lively ethics of global health GMOs: The case of the Oxitec mosquito”. BioSocieties, 10(1): 24-47.
PREMEBIDA, Adriano; NEVES, Fabrício Monteiro e ALMEIDA, Jalcione. 2011. “Estudos sociais em ciência e tecnologia e suas distintas abordagens”. Sociologias, 13(26): 22-42.
PORTO, Rozeli. 2020. “Zika vírus e itinerários terapêuticos: os impactos da pós-epidemia no estado Rio Grande do Norte”. Ilha, 22(2): 169-199.
REIS-CASTRO, Luísa. 2012. “Genetically modified insects as a public health tool: discussing the different bio-objectification within genetic strategies”. Croatian Medical Journal, 53(6): 635–638.
REIS-CASTRO, Luísa e HENDRICKX, Kim. 2013. “Winged promises: Exploring the discourse on transgenic mosquitoes in Brazil”. Technology in Society, 35: 118–128.
REIS-CASTRO, Luísa e NOGUEIRA, Carolina de Oliveira. 2020. “Uma antropologia da transmissão: mosquitos, mulheres e epidemia de Zika no Brasil”. Ilha, 22(2): 21-63.
ROHDEN, Fabíola e MONTEIRO, Marko. 2019. “Para além da ciência e do anthropos: deslocamentos da antropologia da ciência e da tecnologia no Brasil”. BIB, 89: 1-33.
SANJEK, Roger (org.). 2015. Mutuality. Anthropology’s changing terms of engagement. Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
SEGATA, Jean. 2017. “O Aedes Aegypti e o digital”. Horizontes Antropológicos, 23(48): 19-48.
SIMÕES, Mariana Alves. 2022. “Você é da saúde?”: Uma etnografia das relações biomédicas com médicos, cientistas, terapeutas e famílias na epidemia de Zika em Recife/PE (2016-2019). Dissertação de Mestrado. PPGAS, Universidade de Brasília.
TRAWEEK, Sharon. 1993. “An introduction to cultural and social studies of sciences and technologies”. Culture, Medicine and Psychiatry, 17: 3-25.
VALIM, Thais Maria Moreira. 2017. “Ele sente tudo o que a gente sente”. Um olhar antropológico sobre a sociabilidade de bebês nascidos com a Síndrome Congênita do Zika Vírus em Recife/PE”. Monografia de Bacharelado em Ciências Sociais, Universidade de Brasília, 2017.
VALLE, Carlos Guilherme. 2015. “Biosocial activism, identities and citizenship: making up ‘people living with HIV and AIDS’ in Brazil”. Vibrant, 12(2): 27-70.
WALLACE, Helen. 2013. Mosquitos geneticamente modificados: preocupações atuais. Penang: Third World Network (Tradução de Camila Moreno, 2014).
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista de Antropologia da UFSCar
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.