Os medicamentos e seus ambientes

O local como condição para o universal

Autores

  • Stelio Marras

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v4i1.72

Palavras-chave:

recintos e contornos, local e global, fármacos e ambiente

Resumo

No extenso debate a respeito do que seja o local e o universal dos fenômenos, é comum que logo se evoque os medicamentos, eles que seriam entidades em si da universalidade, insensíveis a fronteiras, isto é, capazes de manifestar a integridade de seu princípio ativo independentemente, ou com fraca dependência, do contexto de sua aplicação. Espécie de padrão-ouro para se medir a autonomia das coisas em relação às pessoas que as criaram, a produção farmacológica, reafirmada por sua eficácia em reiterar efeitos estáveis seja lá onde se apliquem, atestaria a separação ou purificação entre contexto e conteúdo, entre ambientes e agentes. Este artigo propõe reconhecer uma associação muito íntima e vital entre os elementos constituintes do fármaco e os elementos, não menos constituintes, dos ambientes que envolvem esse fármaco e com eles se relacionam continuamente. Proposta, portanto, de surpreender um mundo de relações (ou contexto) ali onde costuma imperar a imagem de um mundo de termos (ou conteúdo). Trata- e de sugerir que a universalidade dos medicamentos depende diretamente da estabilidade das condições locais que estão presentes não apenas na produção desses medicamentos, mas ainda na sua capacidade de se transportarem pelas mais diferentes paisagens. Sugestão, enfim, de que sua eficácia dita universal apenas pode ser pretendida se os medicamentos carregarem consigo a eficácia não dita do que lhe é constitutivamente local. 

Referências

BATESON, Gregory. Metadiálogos. Lisboa: Gradiva, 1996. 104 p.

DE NUCCI, Gilberto. (entrevista). Revista Fapesp n. 103, setembro de 2004.

HAWKING, Stephen: Uma breve história do tempo: do Big Bang aos Buracos Negros. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1999. 262p.

JULLIEN, François. Um sábio não tem idéia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 254 p.

LATOUR, Bruno e WOOLGAR, Steve. A vida de laboratório – a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 1997. 300 p.

LATOUR, Bruno. (Entrevista a Renato Sztutman e Stelio Marras): “Por uma antropologia do centro”, In: Revista Mana: Estudos de Antropologia Social 10(2). Rio de Janeiro: Museu Nacional/PPGAS/UFRJ, v. 10, n. 2, 2004, p. 397-414.

____________. Políticas da natureza – como fazer ciência na democracia. Bauru, SP: Edusc., 2004. 411 p.

_____________. A esperança de Pandora – ensaios sobre a realidade dos estudos científicos Bauru, SP: Edusc, 2001. 370 p.

_____________. Jamais fomos modernos – ensaio de antropologia simétrica. São Paulo, Editora 34, 1994

MARRAS, Stelio. “Ratos e homens – e o efeito placebo: um reencontro da Cultura no caminho da Natureza”. In: Revista Campos 2, PPGAS/UFPR, v. 2, 2002, p. 117-133.

____________. Recintos e evolução – capítulos de antropologia da ciência e da modernidade. Tese de doutoramento, Departamento de Antropologia, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2009.

PIGNARRE, Philippe. 1999. O que é o medicamento? Um objeto estranho entre ciência, mercado e sociedade. São Paulo: Editora 34. 150 p.

STENGERS, Isabelle. A Invenção da ciência moderna. São Paulo, Editora 34, 2002. 208 p.

TARDE, Gabriel: “Monadologia e sociologia” [1895], In Tarde, G.: Monadologia e sociologia – e outros ensaios. São Paulo, Cosac Naify, 2007, p. 51-132.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Perspectivismo e Multinaturalismo na América indígena”. In A Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 401-456.

Downloads

Publicado

01-06-2012

Como Citar

Marras, S. (2012). Os medicamentos e seus ambientes: O local como condição para o universal. Revista De Antropologia Da UFSCar, 4(1), 235–246. https://doi.org/10.52426/rau.v4i1.72

Edição

Seção

Dossiê Antropologia e Medicamentos

Artigos Semelhantes

1 2 3 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.