Os medicamentos e seus ambientes
O local como condição para o universal
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v4i1.72Palavras-chave:
recintos e contornos, local e global, fármacos e ambienteResumo
No extenso debate a respeito do que seja o local e o universal dos fenômenos, é comum que logo se evoque os medicamentos, eles que seriam entidades em si da universalidade, insensíveis a fronteiras, isto é, capazes de manifestar a integridade de seu princípio ativo independentemente, ou com fraca dependência, do contexto de sua aplicação. Espécie de padrão-ouro para se medir a autonomia das coisas em relação às pessoas que as criaram, a produção farmacológica, reafirmada por sua eficácia em reiterar efeitos estáveis seja lá onde se apliquem, atestaria a separação ou purificação entre contexto e conteúdo, entre ambientes e agentes. Este artigo propõe reconhecer uma associação muito íntima e vital entre os elementos constituintes do fármaco e os elementos, não menos constituintes, dos ambientes que envolvem esse fármaco e com eles se relacionam continuamente. Proposta, portanto, de surpreender um mundo de relações (ou contexto) ali onde costuma imperar a imagem de um mundo de termos (ou conteúdo). Trata- e de sugerir que a universalidade dos medicamentos depende diretamente da estabilidade das condições locais que estão presentes não apenas na produção desses medicamentos, mas ainda na sua capacidade de se transportarem pelas mais diferentes paisagens. Sugestão, enfim, de que sua eficácia dita universal apenas pode ser pretendida se os medicamentos carregarem consigo a eficácia não dita do que lhe é constitutivamente local.
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