“Ninguém vem ao mundo a passeio”
notas sobre sacerdócio feminino, cura e cuidado em terreiros de “umbanda traçada”
DOI:
https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.340Palavras-chave:
mães de santo, religiões de matriz africana, cuidado, sensibilidades, curaResumo
Através de material coletado durante pesquisa etnográfica em dois terreiros de “umbanda traçada” no Rio de Janeiro dirigidos por mulheres, esse artigo analisa as atribuições de mães de santo explorando as interseções entre dom, iniciação e poder de cura. O estatuto conferido ao corpo e às sensibilidades revelaram-se fundamentais na conformação dos sinais diacríticos do dom para o sacerdócio, apresentando-se sob dois planos distintos e correlatos: a) na experiência subjetiva do chamado espiritual; b) no reconhecimento social das potencialidades e habilidades necessárias à missão de mediar as forças sagradas. Os dados trazidos à luz sugerem que a noção de “cuidado” - associada à “caridade” e envolvendo a corporalidade e a sensorialidade - ocupa lugar central nesse universo religioso, pois permite articular os dois planos mencionados, fazendo com que o “cuidar” de si e o “cuidar” da divindade sejam elementos constitutivos de uma mesma missão.
Referências
ANJOS, José Carlos Gomes dos. 2001. “O corpo nos rituais de iniciação do Batuque”. In: O. F. Leal (org.), Corpo e significado: Ensaios de Antropologia Social. Porto Alegre: Editora da UFRGS. pp. 137-151.
______. 2006. No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira. Porto Alegre: Editora da UFRGS/Fundação Cultural Palmares.
BANAGGIA, Gabriel.2015. As forças do jarê: Religião de matriz africana da Chapada Diamantina. Rio de Janeiro: Garamond.
DUARTE, Luiz Fernando Dias. 2003. “Indivíduo e pessoa na experiência da saúde e da doença”. Ciência & Saúde Coletiva, 8 (1):173-183.
FERRETI, Mundicarmo Maria Rocha. 1988. “Religião afro-brasileira como resposta às aflições”. Cadernos de Pesquisa, 4 (1): 87-97.
GIACOMINI, Sonia Maria. 2014. “Mães de santo em movimento: gênero, raça e axé”. In: G. de Oliveira Assis; L. S. Minella; S. B. Funck (org.), Entrelugares e mobilidades. Desafios feministas. Tubarão: Ed. Copiart. pp. 329-346.
GOLDMAN, Márcio. 2011. “Cavalo dos deuses: Roger Bastide e as Transformações das religiões de matriz africana No Brasil”. Revista De Antropologia, 54 (1): 407-432.
______. 2012. “O dom e a iniciação revisitados: o dado e o feito em religiões de matriz africana no Brasil”. Mana, 18 (2): 269- 288.
GOMES, Nilma Lino. 2010. “Caminhando com Ruth Landes pela cidade das mulheres”. In: M. N. S. Fonseca (org.), Brasil afro-brasileiro. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora. pp. 229-252.
LANDES, Ruth. 1967. A cidade das mulheres. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
LE BRETON, David. 2012. Antropologia do corpo e modernidade. 2ªed. Petrópolis: Vozes.
MAGGIE, Yvonne. 2001. Guerra de orixá: um estudo de ritual e conflito. 3ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. 2002. “Doença mental e cura na Umbanda”. Teoria e Pesquisa, 40/41: 5-23.
MARIANO, Ricardo. 2007. “Pentecostais em ação: A demonização dos cultos Afrobrasileiros”. In: V. G. da Silva (org.), Intolerância Religiosa: Impactos do Neopentecostalismo no Campo Religioso Afro-Brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. pp. 119-147.
MAUSS, Marcel. 2003. “As técnicas do corpo”. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify. pp. 183-314.
MONTERO, Paula. 1985. Da doença à desordem. A magia na umbanda. Rio de Janeiro: Graal.
ORO, Ari Pedro. 2007. “Intolerância religiosa iurdiana e reações afro no Rio Grande do Sul”. In: V. G. da Silva (org.), Intolerância Religiosa: Impactos do Neopentecostalismo no Campo Religioso Afro-Brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. pp. 29-69.
POLVORA, Jaqueline Britto. 2001. “O corpo batuqueiro: uma expressão religiosa afrobrasileira”. In: O. F. Leal (org.), Corpo e significado. Ensaios de antropologia social. Porto Alegre: Editora da UFRGS. pp. 153-161.
PRANDI, Reginaldo. 2012. Os mortos e os vivos: uma introdução ao espiritismo. São Paulo: Três Estrelas.
RABELO, Miriam Cristina Marcilio. 1994. “Religião, ritual e cura”. In: P. C. B. Alves & M. C. S. Minayo (org.), Saúde e doença: um olhar antropológico. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ. pp. 47-56.
SANCHIS, Pierre. 1997. “As religiões dos brasileiros”. Horizonte - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, 1 (2): 28-43.
SANSI, Roger. 2009. “‘Fazer o santo’: dom, iniciação e historicidade nas religiões afrobrasileiras”. Análise Social, XLIV (1):139-160.
SANTOS, Juana Elbein dos. 1984. Os nagô e a morte. Petrópolis: Vozes.
SILVA, Vagner Gonçalves da. 2005. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo Negro.
______.2007. “Entre a Gira de Fé e Jesus de Nazaré. Relações Socioestruturais entre Neopentecostalismo e Religiões Afro-Brasileiras”. In: V. G. da Silva (org.), Intolerância Religiosa: Impactos do Neopentecostalismo no Campo Religioso Afro-Brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. pp. 191-260.
SILVERSTEIN, Leni 1979. “Mãe de todo mundo - Sobrevivência nas comunidades de candomblé da Bahia”. Religião e Sociedade, 4: 142-169.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Revista de Antropologia da UFSCar
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.