Sobre medo, amor e engajamento

micropolítica das emoções a partir da militância de integrantes do coletivo Mães pela Liberdade

Autores

  • Maria Alice Magalhães da Silva Batista UFMG

DOI:

https://doi.org/10.14244/rau.v15i1.445

Palavras-chave:

antropologia das emoções, família, militância materna, Movimento LGBT

Resumo

Neste artigo, proponho reflexões tecidas a partir da interlocução com integrantes do coletivo de familiares de pessoas LGBTQIA+, Mães pela Liberdade, realizada através de entrevistas durante 2020 e 2021 e de trabalho de campo durante 2022. A partir de arcabouço teórico da Antropologia das Emoções, pretendo refletir sobre as narrativas de algumas mães acerca de sua adesão ao coletivo, bem como das transformações em suas subjetividades, possibilitadas pelo engajamento político, abordando o modo como tais falas foram permeadas por uma gramática das emoções. Desenvolvo, também, como essa gramática foi mobilizada enquanto ferramenta política na luta pelos direitos dos/das filhos/as e contra a LGBTfobia, a partir da evocação de categorias como acolhimento e amor num contexto de aliança ao movimento LGBTQIA+. Partindo de uma perspectiva micropolítica das emoções, proponho que exista um gerenciamento discursivo dessas emoções como forma de criar efeitos no cenário de políticas sexuais brasileiro, constando como prática de resistência e de aliança às minorias de gênero e sexualidade.

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Publicado

01-04-2024

Como Citar

Batista, M. A. M. da S. . (2024). Sobre medo, amor e engajamento: micropolítica das emoções a partir da militância de integrantes do coletivo Mães pela Liberdade. Revista De Antropologia Da UFSCar, 15(1), 104–122. https://doi.org/10.14244/rau.v15i1.445

Edição

Seção

Vivências LGBTQIA: processos de reinvenção