Terras que renascem

histórias esperançadas apesar do Antropoceno

Autores

  • Lucas da Costa Maciel
  • Fernanda Borges Henrique

DOI:

https://doi.org/10.14244/rau.v14i2.426

Palavras-chave:

encantados, donos-cuidadores, vínculos, Kiriri, Mapuche, território

Resumo

É possível pensar e agir numa era de catástrofes anunciadas? Mais ainda, é possível contar histórias em que, para além das catástrofes que continuam acumulando e que como tais já não são um anúncio, se viva a reconstituição e o renascimento? Se assim for, quais são as escalas relacionais a partir das quais isso se torna possível? Neste ensaio, partimos da criatividade reconstitutiva de dois coletivos, autoidentificados como Kiriri e Mapuche, para pensar o que mais pode ser dito quando todos os problemas parecem se reportar ao Antropoceno. Nossa intenção é ensaiar com outras escalas relacionais e, portanto, com outros problemas, a despeito da nova era geológica ou, se queremos, na vizinhança dela. Este texto resiste à conexão acelerada entre problemas de distintas ordens, com distintos nomes, e o Antropoceno. Interessa habitar os desajustes dessas conexões para colocar luz sobre a microfísica das relações, das entidades que elas convocam e que, a partir dos casos Kiriri e Mapuche, nos fazem ver terras que renascem. Interessa enfatizar mundos que se reconstituem e que multiplicam agentes de mudança através da replicação em que a complexidade da escala é a autossemelhança. 

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Publicado

28-03-2024

Como Citar

Maciel, L. da C., & Borges Henrique, F. (2024). Terras que renascem: histórias esperançadas apesar do Antropoceno. Revista De Antropologia Da UFSCar, 14(2), 107–131. https://doi.org/10.14244/rau.v14i2.426

Edição

Seção

Quais mundos em Ruínas? O Antropoceno em questão

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